
A coleção TECNICOLOR faz alusão às décadas de 60/70, sobretudo à contracultura, ao movimento hippie e ao cenário musical tropicalista. Inspirada pelas ácidas cores dos efeitos psicotrópicos e com forte influência da cultura pop, a coleção traz modelagens retrôs, com um toque de irreverência e modernidade.
As estampas foram desenvolvidas através de experimentações manuais, conferindo uma coleção vibrante e servida de uma pegada alucinógena. O nome TECNICOLOR remete, ao mesmo tempo, à marca norte-americana "Technicolor", que coloria filmes nos anos 70 e à canção dos Mutantes, de mesmo nome, que mistura o calor dos trópicos com referências estrangeiras.

psicopaisley
Psicopaisley é o nome do nosso primeiro lançamento da coleção Tecnicolor. Mas afinal, de onde vem esse nome ?
Essa história tem início há muito, muito tempo, em locais muito, muito distantes. Para ser mais preciso, por volta do século XVIII, no que se conhece tradicionalmente como "rota da seda".
Por esta rota, que chegou a ser a maior rede comercial do mundo antigo, circulava um tecido extremamente valioso, feito a partir de pêlos de cabras da região da Caxemira (fronteira da Índia com o Paquistão). Por esse motivo, o tradicional padrão de folhas estilizadas e curvadas, presente naquele tecido, é muito conhecido também pelo nome de Caxemira.
É possível verificar uma série de registros históricos do uso deste padrão na moda, em diversas épocas. Todavia, seus nomes e significados variam bastante em cada cultura e região. Para alguns, seria a representação da vida e da eternidade, enquanto que para outros, da fertilidade ou até do equilíbrio.
Somente no início do século XIX, após uma série de adaptações, o tecido que até então era caro se tornou popular e acessível, principalmente na cidade de Paisley, na Escócia. Desde então, é comum associar o nome da cidade escocesa ao motivo de folhas representado também em nossa coleção.
É, contudo, dos anos 60 e 70 que surge, de fato, nossa inspiração para esta estampa. Movidos por um ideal comum, jovens da época se uniram em protesto à Guerra do Vietnã, "inaugurando" assim a era hippie. Neste contexto, o Paisley voltou a ganhar força, tornando-se um popular emblema do rock, graças principalmente aos Beatles, Rolling Stones e outros grupos de artistas que faziam uso deste padrão. Porém, não somente o Paisley foi amplamente utilizado por essa geração de jovens hippies. É fato comum que uma série de psicoativos se tornou popular nesta época e é justamente da união destes elementos que nasce o Psicopaisley.




acid trip




Apesar do conhecimento geral do uso de psicoativos ao longo dos anos 60 e 70, nem todos sabem das curiosas histórias por trás deste fato. O LSD (dietilamida do ácido lisérgico), por exemplo, foi sintetizado pela primeira vez pelos suíços Arthur Stoll e Albert Hofmann, no ano de 1938, na tentativa de se desenvolver um medicamento contra dores de cabeça. Foi, porém, em meados dos anos 60 que nomes como o de Timothy Leary (professor de psicologia da Universidade de Harvard, EUA) se tornaram importantes para a disseminação dos efeitos alucinógenos testados em pesquisas científicas com diferentes usuários. A partir daí, a droga se transforma em mola propulsora dos ideais da contracultura, da revolução sexual, dos movimentos estudantis e da recusa ao modelo socioeconômico vigente.
Ainda que não tenha descoberto o LSD, Leary é considerado por muitos o grande ícone da geração sessentista, graças à sua militância a favor da liberdade do indivíduo e à proposição dos benefícios terapêuticos e espirituais do uso do ácido lisérgico. A estampa Acid Trip (tradução para "viagem de ácido") explora o caráter libertário e a estética da consciência alterada pelo LSD. Nela, buscamos imprimir um estilo abstrato, fugindo de quaisquer regras e elementos figurativos. Dessa forma, é ofertada ao expectador a experiência de enxergar diferentes formas, a partir de sua própria ótica (ou viagem). O processo criativo da estampa seguiu os mesmos precedentes, a partir da experimentação de materiais nada convencionais, que fogem ao padrão da marca: esmaltes de unha. Acompanhe na íntegra o vídeo.
IMPORTANTE: A ilustre ilustra não estimula o uso de drogas ou quaisquer substâncias psicoativas, tendo este texto o objetivo único de informar sobre fatos históricos e processos criativos internos da marca.



bananacid
Seguindo a onda psicodélica, Bananacid é uma estampa que esconde muito mais histórias do que aparenta.
Em resumo, foram três os grandes ícones que inspiraram essa estampa: a OpArt, o Tropicalismo e a cultura Pop.
Partindo da estética do movimento artístico OpArt, que se utiliza da ilusão óptica para criar movimento nas produções, nossa estampa embaralha a visão de quem acompanha suas fluidas manchas pretas, causando certa vertigem no expectador. A frase "menos expressão e mais visualização” regeu o movimento e também o processo criativo da nossa estampa. Trabalhos como os de Bridget Riley, uma das principais protagonistas da pintura britânica dos anos 70, serviram de forte inspiração para o desenvolvimento do grafismo preto e branco de Bananacid.
O estilo de Riley é marcado por listras que se sobrepõem à curvas onduladas, e formas geométricas que se repetem, causando sensações óticas de ritmos nas superfícies, que parecem vibrar.


Mas por quê bananas? A fruta mais consumida do Brasil é também um ícone do tropicalismo brasileiro graças a um especial no programa do Chacrinha: a Noite da Banana, que bem ou mal acabou popularizando ainda mais o movimento tropicalista pelo Brasil.
Caetano interpretou a marchinha de Braguinha e Alberto Ribeiro "Yes, nós temos banana".no palco da TV Globo que foi inteiro decorado com bananas que também eram distribuídas no auditório. Na estréia, Caetano completava o visual anárquico do programa trajando uma túnica estampada de bananas.


Claro que não podemos falar de década de 60, banana e cultura pop, sem citar Andy Warhol e sua icônica banana desenvolvida para a capa do álbum da banda Velvet Underground (1967), “Peel slowly and see”, que em suas primeiras versões realmente poderia ser "descascado". Warhol impulsionou a pop art ao status de grande movimento artístico da década de 1960 ao se apropriar de elementos ordinários da cultura de massa, como uma simples banana.



Woodstock


Chegamos ao final da década de 60, mais especificamente em 1969, em um festival que ficou marcado como um dos mais icônicos de todos os tempos: Woodstock. Realizado entre os dias 15 e 18 de agosto, na cidade de Bethel, no estado de Nova York, Estados Unidos, o evento foi anunciado como "uma Exposição Aquariana : 3 dias de paz e música" e contou com a apresentação de trinta e dois dos mais conhecidos músicos da época. Apesar dos esforços para se reproduzir o festival em datas posteriores, nunca alcançaremos a magia envolvida nesse evento. Nessa estampa, representamos um pouco dessa magia através de personagens diversos e lúdicos, além de algumas das personalidades que se apresentaram para o imenso público presente.
O cartaz do festival se tornou um ícone para gerações de artistas e designer que, inspirados em sua estética, propuseram diferentes releituras. É claro que não ficamos fora dessa e criamos nossa própria versão de "Cartaz".


Imagem do cartaz oficial do festival de Woodstock e releitura tropicalista para a estampa "Cartaz", da ilustre ilustra.
Para participar da festa, era preciso ter em mãos o ingresso adquirido previamente, pelo valor de 18 dólares à época, em lojas de discos, na área metropolitana de Nova York ou via correios. Aproximadamente 186 mil ingressos foram vendidos antecipadamente, e os organizadores estimaram um público de aproximadamente 200 mil pessoas.
Contudo, contrariando as expectativas, mais de meio milhão de pessoas compareceram e participaram sem ingressos, tornando o evento gratuito. O movimento foi tão intenso que gerou um congestionamento imenso, capaz de bloquear a via expressa de Nova York e transformar a pequena cidade de Bethel em uma "área de calamidade pública".
Alguns fatos curiosos que nem todo mundo sabe: o projeto Woodstock surgiu em uma reunião gerada por um anúncio no New York Times e no Wall Street Journal ("Jovens com capital ilimitado buscam oportunidades de investimento legítimas e interessantes e propostas de negócios"). A proposta inicial dessa reunião era realizar um investimento para a criação de um estúdio de gravação na cidade de Woodstock, mas acabou se tornando o que entendemos hoje como o maior exemplo da era da contracultura dos anos 60 / 70. Outro fato curioso é que o festival deveria ocorrer originalmente na pequena cidade de Wallkill, mas os moradores locais recusaram.
O ideal de paz dos jovens à época se confirmou e foi o verdadeiro destaque, prevalecendo sobre as próprias apresentações e qualidade musical. Foi um verdadeiro retrato comportamental exibido na atitude do público em harmonia mesmo frente a problemas de infra-estrutura, mau tempo, insalubridade e racionamento de alimentos.






Musicaotica
Ainda sob forte influência musical, saímos do contexto norte-americano e chegamos ao Brasil, aonde novos movimentos culturais se ensaiavam. Em plena ditadura militar, os artistas precisavam reinventar as formas de manifestar suas ideias, para assim fugir da censura que impelia qualquer tentativa de transgressão.
No cenário musical, o tropicalismo de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e Torquato Neto, despontava com canções inovadoras, que traziam jogos de linguagem próximos aos da poesia dos concretistas.
As letras dessas canções carregavam mensagens críticas à violência da época, mas de forma indireta e codificada, exigindo certo grau de reflexão e maior bagagem cultural para serem compreendidas. "Alegria, Alegria" de Caetano Veloso não tem sentido óbvio, mas traduz a forma de pensar de boa parte da juventude brasileira na década de 60.
Em outras palavras, para transmitir a mensagem, era preciso dar grandes voltas, sem tocar diretamente no assunto. Ainda assim, muitos foram os que sofreram nas mãos dos censores, fosse pela justificativa de "incitação à resistência", "conteúdo ideológico" ou até mesmo "falta de gosto", como é o caso de “Tiro Ao Álvaro”, de Adoniran Barbosa.
Sutil e subliminarmente, nossa estampa homenageia os artistas e heróis que, em meio ao caos e mesmo sob forte repressão, compuseram obras icônicas, que vieram a se tornar referências da nossa música popular brasileira.
